Hannah (2018)

 

A solidão é um sentimento penoso e angustiante. Uma experiência dolorosa e desagradável, marcada por um sentimento de não pertencimento e talvez um possível desinteresse nas relações mantidas, que pode ou não resultar em uma discrepância entre a realidade e as expectativas nas relações sociais.

Hannah (2018) poderia facilmente ser considerado um filme de difícil interpretação, com uma construção bastante complexa e subjetiva. No entanto, Pallaoro não está nem um pouco preocupado em esclarecer as coisas para o espectador. Afinal, quem é essa mulher?

Certos incidentes e insultos na narrativa vão se acumulando com muita paciência, compreensão, profundidade e devastação, à medida que Rampling, progressivamente, lança mão de sua disciplina.

O filme começa com Hannah (Charlotte Rampling) gritando em um ensaio de teatro. Depois, descobrimos que ela mantém uma relação distante com seu marido – no dia seguinte, ele é preso, e não sabemos o porquê. Ao tentar visitar seu neto, descobrimos a rejeição de seu filho, que a impede de vê-lo. Hannah compensa então essa carência mantendo uma ligação compassiva com o menino da casa em que trabalha, que é cego.

Diante desses acontecimentos, o filme pode não parecer muito animador para quem o assiste, mas o tema central é a construção da identidade da personagem, que se torna uma testemunha da vida. Ou melhor, quanto mais Hannah tenta permanecer no mundo normal, mais ela conspira para congelar sua própria vida em níveis tanto drásticos quanto triviais.

É um trabalho primoroso de Pallaoro, porém, não gratuito: as perturbadoras cenas visuais são quase como admoestações a Hannah, negando-lhe até o direito de se afundar em sua escuridão interior. Entretanto, Pallaoro não consegue alinhar-se completamente com os pontos de referência incomparáveis: no final do filme, por exemplo, à medida que toda a extensão da tragédia se revela, Hannah parece um pouco satisfeita com suas elipses, enquanto a inserção de uma grande metáfora natural para sua decadência contrasta com o eufemismo predominante do filme.

Apesar desses excessos, é no formalismo restrito e na contenção estudada de sua protagonista que Hannah ganha o status de filme liberto e rigorosamente autoral. O espectador é desafiado a preencher as lacunas, pois quanto mais minimalistas certos filmes são, maior será seu fascínio sobre eles.

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