Tudo o que Tivemos (2018)

No cinema, a velhice é habitualmente retratada apenas no âmbito das relações familiares e sociais e em situações e experiências bem específicas. Ou seja, como algo dramático, com cenários de muitas perdas e grande desvalorização.

Tudo o que Tivemos (2018), longa-metragem de estreia de Elizabeth Chomko, não foge desse perfil, mesmo com seu sutil senso de humor em torno de um assunto tão sombrio, sem, é claro, banalizá-lo.

A história começa com Ruth (Blythe Danner) levantando-se de madrugada para caminhar em meio a uma tempestade de neve, vestindo apenas uma camisola. No momento em que seu marido, Burt (Robert Forster), percebe a sua ausência, Ruth não está em lugar algum. Uma vez que ela finalmente é localizada e levada para um hospital, milagrosamente ilesa, a situação força Bridget (Hillary Swank), junto com sua filha adolescente Emma (Taissa Farmiga), a retornar à casa de sua mãe.

Nesse retorno, Bridget precisa lidar também com o irmão, Nicky (Michael Shannon), e com a teimosia de seu pai, ao mesmo tempo em que discutem sobre colocar ou não Ruth em uma casa de repouso.

Isto é, enquanto seu pai se recusa a considerar essa ideia, mesmo ignorando todos os sinais cada vez mais contundentes da deterioração de Ruth, seu irmão enxerga esse incidente como uma prova final de que sua mãe precisa ir definitivamente para uma casa de repouso e espera que sua própria irmã o apoie em seus planos.

Partindo disso, o filme tece uma interessante variedade de conflitos familiares em torno de uma questão central: a dinâmica pai-filho, mãe-filha, as relações entre irmãos, a insatisfação conjugal e o medo do compromisso são habilmente considerados importantes juntamente com a principal questão sobre o que fazer ou não com Ruth.

Danner está ótima como assunto central de toda essa confusão, com momentos de clareza surgindo como oásis em uma mente agora presa no passado, sendo uma figura mais discutida do que vista. No entanto, o filme pertence a Swank, com suas sutilezas em um dos seus (talvez) melhores papéis da atualidade, e Shannon e Forster aproveitam ao máximo seus respectivos personagens.

Mantendo o foco diretamente na psicologia, Chomko mitiga uma agenda narrativa bastante pesada com uma pitada de humor, já mencionada, mas nunca cruzando a linha do drama. Melhor dizendo, mesmo mantendo o sentimentalismo em reserva, como resultado de um filme em grande parte constituído por cenas argumentativas, "Tudo o que Tivemos" se torna um filme bastante tocante justamente por conta de uma série de reconciliações judiciosamente discretas e tranquilas, voltadas para um futuro bastante promissor.

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