Crepúsculo dos Deuses (1950)

Nos anos 50, Billy Wilder produziu um filme bastante verossímil ao seu próprio método – por assim dizer – em relação à forma como a então poderosa Hollywood lidava com aqueles que supostamente a conduziam. 

O conceito, diferentemente de seus outros filmes, era bem mais intenso. Com uma história, digamos, óbvia, mas com autênticos diferenciais, o filme se destaca por conseguir captar aspectos essenciais daquela realidade e período, em meio às grandes mudanças sofridas pela indústria na época.

O nome do filme, Crepúsculo dos Deuses (1950), surge para o espectador como uma espécie de retratação física e narrativa, representada dramaticamente, pois o endereço em questão se torna um ponto fixo de localização das ações posteriormente apresentadas.

Para a personagem principal, Norma Desmond (Gloria Swanson), se a vida já não tinha mais seu respeitável glamour, ao menos proporcionaria uma grande surpresa no instante em que um fracassado roteirista, Joe Gillis (William Holden), chega à sua mansão por razões banais. Gillis não é apenas outro elemento importante na condução da história, como também é o narrador. Quando Norma descobre que Gillis é roteirista, resolve mostrar-lhe um rascunho de uma história, pedindo que ele a melhore, pois seu amigo Cecil B. DeMille iria dirigi-la, com ela no papel principal. É nesse contexto que a história se destaca, ao revelar o lado obscuro da indústria cinematográfica.

As situações são construídas com certa genialidade e, embora não tragam aparentemente nenhuma novidade que já não esteja presente na própria realidade cinematográfica, o que as torna únicas é o modo como são conduzidas, incluindo a narração, que vai interligando todos os elementos já apresentados.

A quantidade de referências à história do cinema é outra característica marcante do filme. Sem elas, obviamente, não haveria estrutura, e assim não haveria história. 

De Griffith à toda poderosa Paramount dos anos 20, o tema em si não nos deixa muitas opções. Inclusive, há importantes participações de personalidades do cinema mudo, como o próprio DeMille e Erich von Stroheim, para citar alguns, já que a essência do filme é construída em torno do passado cinematográfico. 

Além disso, não podemos ignorar que a própria Gloria Swanson, que havia sido uma grande estrela do cinema mudo e naquela época estava praticamente esquecida, conduz o filme magistralmente. Suas falas são as melhores, assim como sua imposição, gestos e olhares. Holden também merece mérito, pois consegue, através de sua previsibilidade, antecipar o que vai acontecer.

O grande triunfo da história, em sua totalidade, está no seu desenvolvimento e na denúncia de algo muito além de seu tempo. 

Contudo, é evidente o trabalho bem elaborado de todos os personagens e da estrutura, que, mesmo seguindo um conceito clássico, possui fragmentações bastante distintas, que seriam utilizadas em outros filmes anos mais tarde.

Crepúsculo dos Deuses entrou, sem dúvida, para a lista de filmes visionários, por sempre acrescentar algo novo toda vez que decidimos revê-lo.

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